12 abril, 2008

O FILHO DO CARPINTEIRO NO SUPERMERCADO DA PÁSCOA


No dia em que Jesus entrou triunfalmente em Jerusalém, montado num jumentinho, toda a cidade se alvoroçou; a multidão perguntava quem era aquele e outro grupo respondia ser O Profeta de Nazaré da Galiléia. No dia seguinte ele visitou o templo e expulsou dali os vendilhões usando inclusive a força física ao derrubar mesas repletas de moedas, cestos contendo aves para sacrifício e, ordenando: ‘tirem essas coisas daqui;’ e, ‘não façam da casa de meu Pai casa de negócio;’ (ou: um mercado).

É mais fácil entender este texto quando sabemos que por trás daqueles mercadores do sagrado estavam as mais altas autoridades religiosas permitindo a profanação do culto em troca de gordas comissões; tanto é verdade que em seguida os sacerdotes questionaram a autoridade de Jesus sobre a ação e começaram a tramar a sua morte a partir daí .

Embora a venda de animais para o sacrifício e a existência do câmbio de moedas para atender a muitos estrangeiros que vinham para a festa Pascal fosse legal e fizesse parte da realidade econômica e social da época, Jesus denuncia publicamente a mistura do culto com o mercado; a utilização de elementos da liturgia sagrada como objeto de obtenção de lucro e a vandalização do lugar santo - 'vocês fazem da casa de meu Pai um covil de ladrões.' Pecado este que mais freqüentemente na história tem tirado a força espiritual da Igreja Cristã.

Também é bom notar que Jesus estava não só defendendo o espaço físico do templo – símbolo da pureza e santidade divinas, mas golpeando o centro da instituição religiosa judaica formada por um clero viciado que se escondia na tradição religiosa para se fazer respeitar, distanciado-se da verdadeira espiritualidade.

A entrada de Jesus nas metrópoles modernas ainda alvoroça multidões que se chocam com sua simplicidade e autoridade. Choque muito maior é perceber que a Páscoa, a festa cristã de maior significado para o mundo transformou-se na mega-celebração do mercado que fatura bilhões com ovos de páscoa. O filme é velho: Comerciantes ávidos por lucro, aproveitando-se de motivos religiosos, assentam suas bancas nos espaços sagrados e os profanam enganando multidões débeis e ignorantes como ovelhas que não têm pastor; e tudo isto feito sob os olhares omissos da classe sacerdotal que se gaba de ter o controle estatístico da multidão.


A Páscoa foi reduzida a uma propaganda e a multidão que lota o comércio nesta época continuam sem entender a relação entre Paixão de Cristo e chocolate.



Abimael Prado