07 maio, 2008

A NECESSIDADE DO JEJUM


Presb. Dr. Moacir Braga

Quando alguém jejua espontaneamente, ele está sufocando e dizendo não a um dos mais fortes instintos de sobrevivência do ser humano, que é a procura incessante e diária pelo alimento. O jejum e a meditação sempre fizeram parte de todas as religiões, pois diziam provocar experiências místicas com Deus (o judaísmo, o islamismo e o cristianismo) ou com os seus deuses e espíritos (as demais religiões). A máxima que diz: “a alma brilha mais quanto menor for a atenção dada ao corpo”, defendida por muitos místicos, parece expressar uma verdade, especialmente no que concerne ao jejum e a tudo que diz respeito aos apetites físicos. O jejum é um excelente exercício de autodomínio, requer autodisciplina. Quando corretamente usado, sem dúvida alguma, é de inestimável valor no desenvolvimento espiritual e na comunhão com Deus. Tem perdido importância na moderna igreja evangélica, onde a indolência espiritual é uma constante. As atividades externas, de muitas modalidades, têm substituído os antigos e bíblicos meios de expressão religiosa, com prejuízo do cristianismo autêntico.

O estudo da Palavra, a oração e a pregação, tão enfatizadas pelos reformadores protestantes, em detrimento do jejum e meditação, foi o de combater a prática farisaica dos mesmos, tão enfatizadas por Jesus (Mt 6.16,18) e pelos profetas do Antigo Testamento (Is 58; Jr 14.12), uma vez que tornaram-se em mera ostentação de falsa piedade e legalismo religioso. É bom lembrar que a Igreja Católica Romana passou, também, à prática do jejum como uma forma de penitência, humilhação, punição auto-infligida e de mérito automático diante de Deus. A prática errada do jejum não deve jamais servir de desculpas para o crente que deseja uma comunhão mais íntima com Deus, exercitando o autodomínio não somente quanto ao jejum, mas também em relação aos demais desejos da carne.

Deus, através dos profetas, sempre incentivou a prática do verdadeiro jejum (Jl 2.12 e 15). Jesus Cristo foi homem de oração e jejum (Mt 4.1-4). Era costume entre os judeus piedosos (Lc 18.12; Lc 2.37). No livro de Atos os líderes cristãos praticavam o jejum (At 13.2,3). Paulo jejuava (2 Co 11.27). Quando estudamos a história da Igreja vemos que os Pais da Igreja e os reformadores foram homens e mulheres de oração e jejum, embora não tenham escrito nenhum tratado sobre o tema jejum, talvez pelas razões acima referidas.